segunda-feira, 17 de junho de 2013

Ganhar dinheiro ou fazer o que gosta?

 Eu trabalho com Orientação Profissional há 08 anos. Iniciei minha carreira atendendo jovens adolescentes de classe média, indecisos sobre o rumo que dar à vida. Muitos já sabiam o que queriam, mas não "podiam" admitir aos pais, que tanto investiram em sua educação. Outros estavam completamente perdidos, emaranhados nas milhares de opções profissionais, ávidos para se lançarem ao mundo, mas amedrontados demais para fazer isso sozinhos. E então, eles buscavam a mim. Os "perdidos", quando permitiam aprofundar um pouco mais o conhecimento que tinham de si mesmos, "achavam-se" rapidamente e o brilho resplandecia nos olhos. Contudo,os olhos dos membros de um outro grupo, que ainda não mencionei, demoravam mais a brilhar.Esses me preocupam mais. Eram aqueles que chegavam até mim, assim: "Olha Silvia, eu vim te procurar porque não sei o que fazer da vida. O que eu gosto, não dá dinheiro e o que dá dinheiro, eu não gosto." 

Quantas vezes ouvi isso! Se você é Orientador deve estar concordando comigo, relembrando dos jovens aflitos que passaram por você. Se você é um desses jovens, deve estar rindo, se vendo dizer as mesmas coisas; e se você é um adulto que já passou por isso, deve estar refletindo: Qual escolha eu fiz? O que gosto ou o que dá dinheiro? 

Hoje, eu quero falar com vocês três: Orientadores, jovens e adultos. Quero falar da importância do dinheiro e do mercado de trabalho nas escolhas profissionais. Qual peso o mercado tem?

No início da minha carreira, se um jovem chegava pra mim, falando que estava em busca de uma opção rentável e que depois que ganhasse dinheiro, ele faria o que gosta, eu ficava revoltada internamente. Achava um absurdo e, praticamente, despachava o sujeito.  Com o tempo e com a experiência, percebi que ninguém procura um Orientador, especialmente se ele é psicólogo, para saber o que dá mais dinheiro. Se é para isso, acessa as revistas econômicas, pesquisa sites de indicadores governamentais e pronto. Mais rápido, efetivo e barato. Mas a pessoa que nos procura, a despeito do discurso financeiramente coerente, quer mais. Muito mais. Quando eu, Orientadora, verdadeiramente me dei conta disso, comecei a lançar o convite: Ganhar dinheiro é muito bom, mas ganhar dinheiro fazendo o que gosta é melhor ainda. Já pensou nisso? 

A partir daí, colocávamos o mercado de trabalho e o retorno financeiro em seu devido lugar. Quer saber qual? Vou lhes falar:
  • Mercado de trabalho, atualmente, muda constantemente. Quem lembra como estavam os Engenheiros Civis há pouco mais de 10 anos? Estagnados, sem perspectivas e muitos, (pasmem!), desempregados. Hoje, a Engenharia Civil está "bombando"; os jovens saem empregados das universidades e esbanjam altos salários. As outras engenharias, de maneira geral, acompanham este ritmo. Mas, há alguns anos não era assim e quem garante por quanto tempo durará esta abundância? É óbvio que o Brasil tem muuuitoo o que crescer e a área de engenharia e tecnologia tem muito campo pela frente. Contudo, a próxima crise econômica ditará o ritmo deste crescimento.
  • Ganhar dinheiro depende muito mais de perfil do que de profissão. Ganhar dinheiro tem a ver com visão empreendedora; saber encontrar oportunidades no mundo que se apresenta. Não serei clichê em citar Silvio Santos ou o sr. Mamede Paes Mendonça, ilustres comerciantes que mudaram de vida, mas pensemos: eles se formaram em quê mesmo? Ok! Ok! Outra época. Concordo. Mas será que hoje, a competência para ganhar e gerar dinheiro é muito diferente? Do jeito que o mundo anda competitivo, profissão nenhuma é garantia de sucesso financeiro.
  • Mercado de trabalho é apenas uma variável a ser considerada. O mercado de trabalho deve ser monitorado, para que vejamos, dentre suas opções aquelas que fazem nossos olhos brilharem. 

Bom, eu gostaria de dizer que esse texto não é nenhum manifesto favorável à causa hippie ou apoio à vida sem dinheiro. Se você não pensa em grana e vai viver em alguma comunidade alternativa, esse texto não é para você. Sua vida está resolvida. Agora, se você pretende viver no mundo ocidental e capitalista, é com você que eu estou falando. Espero que você me compreenda. Não deixe de pensar no retorno financeiro que sua profissão e seu trabalho lhe darão; pense e batalhe por isso. Só lembre-se que mercado muda e que profissão não lhe garantirá nada. Ter o dinheiro que espera depende de você. 


Vamos considerar outro aspecto. Se você é jovem: quantas horas você imagina que passará no trabalho? Meu amigo, que já é adulto: quantas horas você passa no seu trabalho?   Com certeza, você vê mais o seu chefe do que sua esposa! Li uma vez, um texto de Rubem Alves* que dizia que escolher uma profissão por dinheiro é pior do que casar com alguém por dinheiro, pois, segundo ele, no casamento, você ainda pode escapulir e do trabalho, como vai fugir?  Para autores das teorias vocacionais, como John Holland, escolher uma ocupação adequada à sua personalidade vocacional traz satisfação e estabilidade no trabalho.  E eu acrescento: fazer algo com o que se identifique lhe dá força para acordar todas as manhãs e dizer que, apesar de todas as dificuldades, vale a pena. O importante é saber: o que vale a pena pra você? O que te mobiliza? Reconhecimento, conhecimento, ajudar as pessoas, ensinar, produzir, gerar trabalho...

Por fim, quero dizer apenas que vamos acabar com essa história de confrontar afinidade com ambição. Quem disse que devem estar separados? Quando foi, na história da humanidade, que resolveram rivalizar a afinidade (os interesses) e o dinheiro?  Acredito que o que te faz feliz te dá retorno. Sempre. E depende de você.

Se você é Orientador como eu, desejo que consiga auxiliar as pessoas a serem mais felizes com as escolhas que fazem;

Se você é adulto como eu, desejo que alcance o sucesso que almeja, sendo feliz no que realiza;

Se você é adolescente como fui, espero que realize a melhor escolha possível hoje e que tenha coragem para mudar o rumo da história se for necessário.

*Rubem Alves, Muito Cedo para Decidir.

Sil Cavalcanti Fleming

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