domingo, 14 de julho de 2013

As demandas por O.P. no Brasil e na Bahia - Livres Reflexões Pré e Pós Simpósio da ABOP

Nos dias 3,4 e 5 de julho foi realizado em São Paulo, o XI Simpósio de Orientação Vocacional Ocupacional. Antes de ir ao evento, eu já estava maturando algumas ideias para compartilhar com vocês, mas não tive tempo de escrevê-las a tempo de viajar. Que bom!
 Eu já estava a pensar sobre os efeitos da adesão completa da UFBA  (Universidade Federal da Bahia) ao SISU (Sistema de Seleção Unificada), adotando o resultado do ENEM como exclusiva forma de ingresso às concorridíssimas vagas da universidade.  Meus pensamentos sobre isso me levavam (confesso!) a perceber esta mudança como uma ampliação do período de oferta de serviços de O.P. ao longo do ano. Continuo a pensar assim.  Vejam bem: sob a lógica do vestibular, o estudante tinha que fazer a escolha profissional até agosto/setembro. Com a adesão ao SISU, agora, o estudante baiano poderá protelar esta escolha por mais alguns meses.  Isso significa que, nós, Orientadores Profissionais da região, ganharemos mais 3 meses de possibilidade de trabalho. Alguém pode estar pensando: mas que benefício isso traz ao estudante? Eu ainda não estou discutindo os benefícios/malefícios para o estudante, ok? O que estou vendo é que se antes nosso trabalho era sazonal, com picos em junho/julho, hoje, poderemos ter demanda pelo trabalho por mais alguns meses. Antes de ir ao Simpósio eu estava pensando apenas sobre esse lado da questão...
Outro ponto estava passando pela minha cabeça antes de desembarcar na terra da garoa. Ao abrir a programação no site da ABOP - www.abopbrasil.org.br, uma coisa me chamou atenção: a quantidade de trabalhos (pesquisas, relatos de experiências e mesa-redonda) sobre universitários. Tradicionalmente, os trabalhos de O.P. tratam da escolha realizada no Ensino Médio, mas em 2013, isso foi diferente. Apesar da surpresa, mantive-me cautelosa em escrever sobre isso, pois poderia ser algum viés perceptivo da minha parte. Afinal de contas, eu trabalho com e pesquiso sobre universitários. Enfim, poderia ser desejo gerando ilusão. Contudo, na cerimônia de abertura do evento, a Profa. Maria Conceição Uvaldo[1], nos presenteou com uma valiosa informação: 25% dos trabalhos inscritos versavam sobre universitários. Uau! Eu estava certa.
O que isso significa?
O que isso tem a ver com o SISU?
É sobre essas relações que quero falar com vocês.
No Brasil, é inegável o aumento do acesso ao nível superior de educação. O governo federal tem investido bastante na democratização do acesso: aumento do número de vagas nas IES públicas, sistema de cotas, bolsa e financiamento para estudantes de IES privadas. Contudo, segundo Taveira (2000), isso não significa aumento do SUCESSO na educação superior. Existem vários estudos brasileiros (Ghizoni e Teles, 2006)  e internacionais (Kuh et al.,2006; Terenzini e Reason,2005) que apontam inúmeras dificuldades do estudante universitário em se adaptar e permanecer no ensino superior.  Somada às dificuldades de adaptação a um novo sistema de aprendizagem e avaliação, boa parte desses jovens têm realizado escolhas profissionais de baixa qualidade; sem exploração prévia adequada sobre si mesmo e sobre a realidade do mundo do trabalho. Resultado: evasão.
Diante desse quadro , o que vocês acreditam que irá acontecer com as escolhas desses jovens? Antes (até o ano anterior), os jovens baianos escolhiam suas profissões, em seguida as IES que gostariam de cursar e então, eram submetidos ao processo seletivo. Agora, eles escolhem a profissão (se quiserem), fazem o processo seletivo (prova do ENEM) e depois escolhem curso e IES.  Acredito que isso vai acabar fortalecendo um critério de escolha frágil: escolho a profissão que eu tiver mais ponto pra passar.  Sei que o SISU já é adotado por IES públicas de outros Estados. Alguém sabe me dizer qual foi o impacto disso? É por essas e outras questões que crescem o número de pesquisas sobre escolhas profissionais no Ensino Superior...
É bom esclarecer que não estou criticando o SISU ou estou com saudade do velho vestibular da UFBA. Estou apenas pensando sobre os efeitos das políticas públicas sobre o indivíduo que escolhe. Aumenta a responsabilidade das escolas de ensino médio. Aumentam as preocupações de quem trabalha no ensino superior.
Aumentam os temas de pesquisa na área. Quem se habilita? Próximo Simpósio da ABOP será em 2015. Já dá pra apresentar alguma coisa...

Abraços a todos!

Referências
Ghizoni, L. D. & Teles, M. M. R. (2005). Escolha e re-escolha profissional: um estudo sobre estudantes universitários noturnos. Em: M. C. P. Lassance, A. C. Paradiso, M. P. Bardagi, M. Sparta & S. L. Frischenbruder (orgs.), Intervenção e compromisso social – Orientação profissional teoria e técnica vol 2 São Paulo: Vetor, 229-301.
Kuh, G.D., Kinzie, J., Bridges, B.K. & Hayek, J.C. (2006) What matters to student success: A Review of the literature. Commissioned Report for the National Symposium on Postsecondary Student Success: Spearheading a Dialog on Student Success
Reason, R.D., Terenzini, P.T., Domingo, R.J. First things First: Developing academic competences in the first year of college. Research in Higher Education, 47 (2), 149-175.
Taveira, M. do C. (2000) Apoio psicossocial na transição para o ensino superior: Um modelo integrado de serviços. In Soares, A.P., Osório, A., Capela, J.V., Almeida, L.S., Vasconcelos, R.M. & Caíres, S.M. (org.) Transição para o Ensino Superior, Braga: Universidade do Minho.





[1] Presidente da ABOP - Gestão 2011 - 2013

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