Nos dias 3,4 e 5 de julho foi
realizado em São Paulo, o XI Simpósio de Orientação Vocacional Ocupacional.
Antes de ir ao evento, eu já estava maturando algumas ideias para compartilhar
com vocês, mas não tive tempo de escrevê-las a tempo de viajar. Que bom!
Eu já estava a pensar sobre os efeitos da
adesão completa da UFBA (Universidade
Federal da Bahia) ao SISU (Sistema de Seleção Unificada), adotando o resultado
do ENEM como exclusiva forma de ingresso às concorridíssimas vagas da
universidade. Meus pensamentos sobre
isso me levavam (confesso!) a perceber esta mudança como uma ampliação do
período de oferta de serviços de O.P. ao longo do ano. Continuo a pensar
assim. Vejam bem: sob a lógica do
vestibular, o estudante tinha que fazer a escolha profissional até agosto/setembro.
Com a adesão ao SISU, agora, o estudante baiano poderá protelar esta escolha
por mais alguns meses. Isso significa
que, nós, Orientadores Profissionais da região, ganharemos mais 3 meses de
possibilidade de trabalho. Alguém pode estar pensando: mas que benefício isso
traz ao estudante? Eu ainda não estou discutindo os benefícios/malefícios para
o estudante, ok? O que estou vendo é que se antes nosso trabalho era sazonal,
com picos em junho/julho, hoje, poderemos ter demanda pelo trabalho por mais
alguns meses. Antes de ir ao Simpósio eu estava pensando apenas sobre esse lado
da questão...
Outro ponto estava passando pela
minha cabeça antes de desembarcar na terra da garoa. Ao abrir a programação no
site da ABOP - www.abopbrasil.org.br, uma coisa me chamou atenção: a quantidade
de trabalhos (pesquisas, relatos de experiências e mesa-redonda) sobre
universitários. Tradicionalmente, os trabalhos de O.P. tratam da escolha
realizada no Ensino Médio, mas em 2013, isso foi diferente. Apesar da surpresa,
mantive-me cautelosa em escrever sobre isso, pois poderia ser algum viés
perceptivo da minha parte. Afinal de contas, eu trabalho com e pesquiso sobre
universitários. Enfim, poderia ser desejo gerando ilusão. Contudo, na cerimônia
de abertura do evento, a Profa. Maria Conceição Uvaldo[1],
nos presenteou com uma valiosa informação: 25% dos trabalhos inscritos versavam
sobre universitários. Uau! Eu estava certa.
O que isso significa?
O que isso tem a ver com o SISU?
É sobre essas relações que quero
falar com vocês.
No Brasil, é inegável o aumento
do acesso ao nível superior de educação. O governo federal tem investido
bastante na democratização do acesso: aumento do número de vagas nas IES
públicas, sistema de cotas, bolsa e financiamento para estudantes de IES
privadas. Contudo, segundo Taveira (2000), isso não significa aumento do
SUCESSO na educação superior. Existem vários estudos brasileiros (Ghizoni
e Teles, 2006) e internacionais (Kuh et
al.,2006; Terenzini e Reason,2005) que apontam inúmeras dificuldades do
estudante universitário em se adaptar e permanecer no ensino superior. Somada às dificuldades de adaptação a um novo
sistema de aprendizagem e avaliação, boa parte desses jovens têm realizado
escolhas profissionais de baixa qualidade; sem exploração prévia adequada sobre
si mesmo e sobre a realidade do mundo do trabalho. Resultado: evasão.
Diante desse quadro , o que vocês
acreditam que irá acontecer com as escolhas desses jovens? Antes (até o ano
anterior), os jovens baianos escolhiam suas profissões, em seguida as IES que
gostariam de cursar e então, eram submetidos ao processo seletivo. Agora, eles
escolhem a profissão (se quiserem), fazem o processo seletivo (prova do ENEM) e
depois escolhem curso e IES. Acredito
que isso vai acabar fortalecendo um critério de escolha frágil: escolho a
profissão que eu tiver mais ponto pra passar.
Sei que o SISU já é adotado por IES públicas de outros Estados. Alguém
sabe me dizer qual foi o impacto disso? É por essas e outras questões que
crescem o número de pesquisas sobre escolhas profissionais no Ensino
Superior...
É bom esclarecer que não estou
criticando o SISU ou estou com saudade do velho vestibular da UFBA. Estou
apenas pensando sobre os efeitos das políticas públicas sobre o indivíduo que
escolhe. Aumenta a responsabilidade das escolas de ensino médio. Aumentam as
preocupações de quem trabalha no ensino superior.
Aumentam os temas de pesquisa na
área. Quem se habilita? Próximo Simpósio da ABOP será em 2015. Já dá pra
apresentar alguma coisa...
Abraços a todos!
Referências
Ghizoni, L. D. & Teles, M. M. R. (2005). Escolha
e re-escolha profissional: um estudo sobre estudantes universitários noturnos.
Em: M. C. P. Lassance, A. C. Paradiso, M. P. Bardagi, M. Sparta & S. L.
Frischenbruder (orgs.), Intervenção e
compromisso social – Orientação profissional teoria e técnica vol 2 São
Paulo: Vetor, 229-301.
Kuh, G.D., Kinzie, J., Bridges, B.K. &
Hayek, J.C. (2006) What matters to student success: A Review of the literature.
Commissioned Report for the National Symposium on Postsecondary Student
Success: Spearheading a Dialog on Student Success
Reason, R.D., Terenzini, P.T., Domingo,
R.J. First things First: Developing academic competences in the first year of
college. Research in Higher Education, 47 (2), 149-175.
Taveira,
M. do C. (2000) Apoio psicossocial na transição para o ensino superior: Um modelo
integrado de serviços. In Soares, A.P., Osório, A., Capela, J.V., Almeida, L.S.,
Vasconcelos, R.M. & Caíres, S.M. (org.) Transição
para o Ensino Superior, Braga: Universidade do Minho.